(Texto escrito há alguns anos atrás, em algum lugar da juventude...)
Eu, como arteterapeuta e praticante de meditação, adquiri o hábito de usar minha própria vida como base e motivação para estudos. Então, lá vai:
PARTE UM – SOBRE DIFERENTES CAMADAS DE SOLIDÃO
Eu me sinto muito só. Isto é algo difícil de admitir pois as pessoas imediatamente vão responder: “você não está só, eu sou seu/sua amigo/a, quando precisar me chama”.
Mas eu tenho pesquisado um tanto sobre isto, e hoje achei um vídeo no youtube muito interessante a respeito. E sim, eu posso dizer que me sinto só com propriedade agora. O que me faz rir e chorar ao mesmo tempo.
Existiu um pesquisador que desenvolveu uma teoria, conhecida como Número de Dunbar.
Com base nesta pesquisa, podemos analisar nossa solidão em CAMADAS, níveis de proximidade. Com todas as ressalvas possíveis da simplificação, cada um de nós deveria normalmente ter:
– 5 pessoas próximas, íntimas, consideradas o núcleo familiar, com quem você passa aproximadamente 40% do seu tempo social;
– 15 pessoas estão no seu “grupo de simpatia”, aquelas pessoas que vocês se acompanham mais ou menos de perto, que você conversa quase todo dia no trabalho, na faculdade;
– 50 pessoas seriam o seu grupo de “amigos casuais”, amizades que você vê de vez em quando, faz algo junto casualmente. Pessoas com quem você trabalha ou familiares que você não tem intimidade, mas convidados para uma festa.
– 150 pessoas seria seu grupo de relações com alguma importância.
A solidão não é a mesma coisa que a depressão, mas pode ser uma das causas. A solidão também desencadeia fisicamente respostas parecidas com o stress, pois o corpo tem marcas que entendem que estar só é perigoso para a vida, então ativa hormônios do “fugir ou lutar”. Quem passa muito tempo sozinho também pode se sentir mais ameaçado em situações sociais (isto também acontece comigo às vezes, embora eu tenha uma personalidade bastante extrovertida!).
Claro, estamos aqui falando de interações físicas, a pesquisa não chega a analisar este tipo louco de interação que temos no facebook! Estamos falando de um ser humano que teve anos de evolução em grupos sociais, e recente mudança para vidas individuais causada pela revolução industrial e capitalismo.
A meditação tem sido um treino maravilhoso de como não se sentir só, mesmo estando só, e de como analisar as emoções criando um observador externo. Entre outras coisas, a meditação desenvolve um grande senso de conexão com a humanidade, compaixão. É a meditação que faz a gente analisar o nosso próprio sofrimento e transformá-lo em habilidades para ajudar os seres.
Sem a meditação eu posso dizer que estaria em grande sofrimento. A meditação não me faz deixar de sentir solidão. A meditação me ajuda a perceber este sentimento e pensar: o que estou sentindo realmente? Qual a origem desta emoção que me perturba? O que eu posso fazer para dissolvê-la? Como eu posso usar esta experiência para me conectar com o sorimento dos seres e desenvolver formas de ajudá-los?
Este texto é minha primeira resposta imediata.
Pois bem: hoje eu não teria estritamente ninguém no meu grupo de 5 pessoas!
Claudia Barb’s é a última pessoa que esteve neste grupo pois morou comigo uns tempos. A gente ainda tenta se ver de vez em quando. E eu já vou pedindo aquele perdãozão para as outras pessoas que talvez me considerem como família, inclusive minha família mesmo, mas o caso aqui é de nomear pessoas de convívio íntimo e diário. E eu acredito que quem tem 5 pessoas pra chamar de íntimo e passar 40% do seu tempo social, pode se sentir muito privilegiado na nossa sociedade atual!
Já no meu grupo de simpatia, nomear 15 pessoas é fácil! E meu grupo de amigos casuais ou relações importantes é incontável! A sanga budista inteira tem uma proximidade incrível e eu sei que posso contar com todos para me ajudarem se eu precisar. Não participar de grupos religiosos é uma das causas que pode causar solidão. Não é meu caso.
Então, a minha solidão não pode ser “resolvida” com amizades, porque eu sinto a necessidade de ter uma família, pessoas que convivam comigo diariamente, e também sinto falta de contato físico e intimidade, e isto é completamente normal, não é nenhum sentimento absurdo e injustificável. É nestes níveis de convívio diário que eu sinto solidão.
Hoje, solteira e trabalhando como MEI passo uns 70% do meu tempo sozinha, uns 20% do meu tempo entre amigos próximos e casuais e 10% com pessoas sem intimidade alguma.
E qual é a conclusão?
Para mim a grande conclusão foi: é normal se sentir só. Não é algo que precisa ser resolvido imediatamente, mas pode ser acolhido.
Além disso, eu percebi que no meu nível de solidão eu preciso de pessoas com quem eu poderia conviver mais e compartilhar o dia-a-dia. Assim, coloco no meu coração o desejo de conhecer mais os vizinhos, talvez viver em comunidade, encontrar os amigos mais próximos mais vezes. Semana que vem uma amiga vem morar comigo e a decisão de dividir a casa ficou mais clara. E claro, continuo na busca de um companheiro.
😀
Você talvez perceba que sua solidão é outra: que você tem família, pais ou filhos próximos, mas que sente falta de amigos. Ou que sente falta de um círculo social maior, como participar de um clube ou grupo filosófico.
Para mim foi importante poder dizer aos meus amigos: eu me sinto só e não é falta de amigos, vocês não precisam se sentir culpados.
🙂
Vou deixar os comentários abertos neste texto, pois se você sentir que precisa comentar, eu vou entender.
Eu sou igual a você, e você é igual a mim.
Namastê
Vídeo que falei referência (em inglês, mas tem legenda!):